domingo, 1 de março de 2015

A Mesa

Domingo bom é aquele em que a gente comemora. Qualquer coisa pode ser comemorada. Tudo. Até se o seu time perder: "Isso mesmo! Mereceram!" Mas esse domingo foi especial. Muito, diga-se de passagem.

Desde sábado já se comemorava o aniversário da minha mãe. Saímos em família, três casais, e num papo regado a risadas interrompidas por comida boa e bebidas sem álcool, celebramos mais um ano de vida dela. Suficiente? Não. No domingo, panelada de dobradinha para o restante da família que veio dar o abraço de todo ano.

Durante o almoço, tocava um CD de músicas de dor-de-cotovelo daqueles, cheios dos clássicos de Amado Batista, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Cauby, Timóteo... Até que minha refeição foi pausada por alguns minutinhos, quando tocou "Naquela Mesa." Essa canção não pode passar despercebida, nunca, por ninguém! Levantei da mesa, fui ao banheiro, e depois de um tempinho bem curto, voltei para terminar o almoço, depois de ter chorado pouquinho, baixinho, de saudade do meu avô, que tanto gostava de um almoço de domingo embalado por esses clássicos. Só saí da mesa por causa da minha avó, que depois de onze anos não esconde a saudade e ainda chora, assim como eu, mas ela tem 87 anos e uma série de fatores agravantes para emoções fortes. Os outros, incautos, nem perceberam a música: seus ruídos a abafaram em seus ouvidos. Mas não nos meus.

Que saudades do meu avô! Que pena não tê-lo em pessoa para compartilhar de um almoço, nunca mais. Que pena não cantar mais nada com ele quando eu pego o meu violão. Cantar "Naquela Mesa" baixinho foi o meu mantra para o resto do dia. E chegando em casa, ouvi várias outras do Nelson Gonçalves só pra comemorar a saudade gostosa do velho João. Fique em paz, vô. E dá um abraço no Nelson Gonçalves aí.

https://www.youtube.com/watch?v=8YaOWBvx_Ms

Naquela mesa ele sentava sempre
E ensinava pra gente o que é viver melhor.
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor.
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã,
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã.

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto
Uma casa e um jardim.
Ah, se eu soubesse como dói a vida
Essa dor tão doída
Não doía assim.
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala
Do seu bandolim.
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele
Tá doendo em mim.

J.E.

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