quinta-feira, 7 de abril de 2011

Francamente, onde é que vamos parar?

Acordei cedo, como de costume, para trabalhar na última quinta, dia 07 de Abril de 2011. Numa escola pública, diga-se de passagem. A notícia de que um atirador teria invadido uma escola no Rio de Janeiro, matando alunos, chegou na hora do recreio, mais ou menos 5 minutos antes de eu entrar em sala para a aula das 10h. Não vou mentir que não passou pela minha cabeça a ideia de "Podemos ser os próximos." As colegas de sala de aula também pensaram. A maior pergunta que fica é aquela que não dá pra ser respondida em uma só linha. Aliás, acho que dá, até em uma palavra - bem curtinha: NÓ. O problema está em desfazê-lo. No funcionarismo público brasileiro ainda existe aquela filosofia do "O meu está ganho. Quero mais é não me preocupar com o resto." Estabilidade de emprego já foi uma marca mais forte dos empregos públicos. Todo mundo reclama que o governo não dá suporte, que hoje o professor sofre com o descaso. E diz que se o governo dá laptop, dá cartão cultura, dá ajuda da passagem, não dá aquilo de que o professor mais precisa: RECONHECIMENTO. Mas falta um pouco de amor próprio, de vontade de querer mudar. Simplesmente querer que mude não afeta em nada o processo. Com esse nó cego apertado, a situação fica mais complicada ainda. É difícil ver aquele professor amigo dos alunos, aquele que encontra com você na rua e pergunta pela família, pelo irmão, pelo cachorro, e etc. Eu tento ser um professor assim, mas sinto que o nó, às vezes, não deixa a gente chegar perto do aluno. Será que isso é só culpa do professor? Ou será que o aluno também tem culpa? E, se a culpa é dele, onde será que isso tudo começa? Em casa? Na rua? Na televisão? Na internet? Outro dia uma aluna do 7º ano (antiga 6ª série; ela tem uns 12 anos) veio me mostrar um "vídeo legal" (palavras dela) que ela tinha no celular. O vídeo tinha uns 2 minutos de duração, e era de um assassinato. Não algo do tipo latrocínio, mas uma emboscada. Uns cinco homens, armados até os dentes, pegaram um jovem num lugar tipo uma viela. E simplesmente descarregaram as armas. Até o fim. Imagine o que sobrou da vítima. Imaginou? Pois é, estava no vídeo também. Não bastassem a cena do corpo tremendo e do sangue jorrando e o barulho dos tiros, o vídeo tinha imagens internas da cabeça do morto. Quando perguntei se a mãe dela tinha visto o vídeo, a resposta foi: "An-rã, foi ela que me passou, professor." Onde está o respeito que existia dentro de casa? A família costumava ser, pelo menos na minha época, uma instituição de maior respeito. E aprendia-se em casa como respeitar o espaço do outro. Não podemos generalizar, pois ainda há muita gente boa no mundo. Mas parece que está cada vez mais escasso. Isso tudo aconteceu um dia depois de eu ter escrito um post falando do orgulho que tenho de ser professor (o post está logo aqui embaixo). Ver as cenas das crianças correndo nos corredores da escola, fugindo dos tiros, me chocou a tal ponto de pensar que estávamos em meio a uma guerra civil. Aposto que não fui o único. Infelizmente, vidas inocentes foram levadas tão cedo pelas mãos de um louco, cuja história ninguém sabe ao certo qual é. Mas ainda assim, acredito que dá pra mudar. Falta força de vontade, mas de três partes: do governo, dos docentes e das famílias dos alunos.

J.E.

2 comentários:

*Sa* disse...

Gostei muito do seu post!
A questão do vídeo do celular que a mãe passou pra filha beira o absurdo! Onde está o respeito? Isso é família agora? Onde é legal ver um cara sendo morto metralhado? É cruel!
Eu sou professora e lidando com os alunos, as vezes, eu percebo essa lacuna que deveria ter os pais na educação das crianças. E muitas vezes eu vejo a lacuna do professor também. Ser professor é ser amigo, mestre, e muitas vezes, psicólogo, pai, mãe... é uma responsabilidade em dobro pra pouco reconhecimento.

Enfim, gostei bastante! =) Continue escrevendo nossas realidades =)

JAMES ENGLISH disse...

Oi, Sa. Bom ter vc aqui no blog.
Bom saber que a gente nunca está sozinho!
Volte mais vezes...